Eu realmente acho que as pessoas não são mais que reflexos das pessoas à sua volta. Eu realmente acredito numa longa fila de reflexos que se sobrepõe causando náusea às vezes, quando não causa excitação. E penso que quanto mais espelhos quebramos, não mais azar, mas sim uma puta linearidade pálida nos atinge.
Existem espelhos maiores, onde nos refletimos mais, e espelhos distorcidos, que nos tiram a forma. Existem espelhos que não nos cansam a vista, não importa o quanto o encaremos. Muito pelo contrário, alguns deles nos prendem os olhos por tempo o bastante pra ignorarmos o tempo, deixando-nos descansar perdidos o olhar num reflexo que nos mais ínfimos detalhes se mostra perfeito em tudo que se reflete. O que não significa que daqui a cinco minutos a iluminação nos dê uma rasteira, e esse espelho antes hipnótico, traga agora reflexos asquerosos de um erro inútil.
Mas são espelhos. Vários espelhos movendo-se num salão estranho, que não só aparece neles, como também os influencia em seu nível de moldura. São espelhos que se olham através de outros espelhos. São olhos que não se fecham, gestos que não terminam a não ser numa repetição infinita.
Espelhos profundos, rasos, descascados, sujos, turvos - por vontade própria às vezes. São espelhos reluzentes, rachados, polidos, pequenos, imensos, esquios, fugidios, forçados, às vezes cheios de adereços. Aliás, quase sempre cheios de recortes da realidade que vão tampando suas superfícies. Mas ainda são espelhos, numa longa galeria de semelhanças e rechaças e eu não posso evitar, senão me apaixonar por cada um deles...
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