Pensou em Jesus, pensou em desertos Pelo senso comum, a paisagem onde
Cristo viveu e aquela que sempre aparece nos filmes sobre ele: areia, gente
esfomeada, mais areia... Só que não. A região em volta do Mar da Galileia, onde
Jesus passou a maior parte da vida, não tem nada de deserto. Está mais para uma
daquelas paisagens suíças de propaganda de chocolate: um lago de água doce, com
uma vegetação colorida em volta. Tudo emoldurado por montanhas. Cartão postal.
E o que o lugar tem de bonito, tem de fértil. Ha dois mil anos, as
vilas que pontuavam os 64 quilômetros de circunferência com lago produziam
toneladas de azeite, figos, nozes, tâmaras - itens valiosos num tempo sem
iPads, Galaxies ou TVs de Led. Escavações arqueológicas mostram que a cidade
onde Jesus se estabeleceu, Cafarnaum, era o centro comercial de onde esses
alimentos partiam para o resto da Palestina. A pesca também era industrial.
Magdala, a cidade de Maria Madalena. a 10 quilômetros de Cafarnaum.abrigava um
centro de processamento de peixes. onde as tilápias do Mar da Galileia eram
limpas, conservadas em sal do Mar Morto, e exportadas para outros cantos do
Império Romano. O ambiente era de fartura, pelo menos para os padrões da
Antiguidade. Tanto que o próprio milagre da multiplicação dos pães e dos peixes
não aparece na Bíblia como uma “ação de combate a fome”. Mas como um lanche de
fim de tarde mesmo. Segundo os evangelhos, uma multidão tinha seguido Jesus até
um lugar ermo para ouvi-lo. Estava anoitecendo. Os apóstolos alertaram o mestre
de que, no lugar onde estavam, o pessoal não teria onde comprar comida. Então
operou-se o milagre. Sem drama. A ideia de que Jesus pregava num deserto famélico
é só a ponta de um iceberg de mitos que povoam o senso comum quando o assunto é
Cristo. Nas próximas páginas vamos ver o que a historia, a arqueologia e a
própria Bíblia têm a dizer sobre os outros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário