Matei minha fome com tua última lembrança, tua última frase: 'FDP', que reverberou como uma antecipação da sua partida. Um jogo de críquete em que você foi vencida pelo desprezo aparente. Palavras não-ditas de um desencontro inconsolável. Miséria e migalhas, a insatisfação adora companhia. E esse foi meu último pensamento sobre você.
Porque então andei pela praia esperando encontrar uma faixa de pedestres onde eu pudesse atravessar para o outro lado do mundo, mas os sinais de trânsito tinham cores mescladas, nunca se sabia o verde ou o vermelho. Piscava sempre o amarelo, e não sei porque, não significava ¿atenção!¿. Encontrei maços de cigarro com estiletes enrolados, chutei latas de cerveja feitas de ouro, encontrei um pescador com sua rede, que tinha um enorme círculo aberto no meio, por onde obviamente todos os peixes fugiam. Perguntei-lhe o que pescava e ele só disse: ¿algo grande¿. Sim, deve-se pensar gigante nessa vida, deve-se comer o cu da ambição se for necessário e me entristeci por ver também essa necessidade aqui, pois quando vim pra cá não queriam necessidades, queria governos extraordinários de anarquias desencontradas e mil outras confusões que nunca se ajustariam numa coisa tão correta quanto uma sociedade e uma aspiração a ela.
Mas sabia da poesia dos canteiros nonsense onde eu podia sempre arranjar a sombra de um sol que mais queimava depois de bater na areia. Brinquei um pouco ainda de me desviar do tiroteio de raios solares mas um raio perdido me acertou bem forte e deixei que escurecesse. Deixei que chegasse a hora em que os pescadores vão ao mar. Já não sabia, como nunca soube de verdade, em que hora estávamos. Mas a lua se ajeitava no espelho de águas, e como estava bonita, se sentia cheia. Refletia vermelha e lasciva sobre os pescadores em seus cargueiros tão decrépitos que eu podia imaginar os desastres comuns que aquele povo mantinha dentro dele mesmo. Suas mortes e seus nascimentos, suas traições enquanto o barco estava em alto-mar.
E uma mulher entrou num pequeno barco com uma vara e iscas de desejo e fome, tinha cinco mil anos de sonhos ¿ que passavam tão rápido em suas noites. Seus 25 anos de sonhos e lágrimas multicoloridas. Ela pairava sobre as águas. Uma fina camada de madeira dividindo a imensidão e um espaço de dois metros por um e meio, onde ela guardava seus apetrechos de pescadora. Peguei uma dessas brisas marítimas noturnas e fui parar ao seu lado, invisível o bastante para poder ouvi-la cantando um mantra:
¿estou perdida em alto-mar e ninguém pode me incomodar mas me irrita uma vida de alergia que nenhuma antibiótico sabe curar¿
Não pude senão sorrir. Sorrir dessa esperança, dessa vida de 1,99 sem entrada e cheque para trinta dias. E então já era hora do sol surgir. E nesse vilarejo, não sei porque, a lua se vai depois de ver o sol. Por minutos os dois astros se encontram dividindo lados opostos de um ringue astral. E como se vê um amigo partir, despedidas para lugares melhores quase renascimentos, gente que viaja acenando com as mãos nuas, era hora da lua sair da janela e ir aproveitar o dia, pois afinal havia trabalhado, como uma puta inatingível, a noite toda. Juntos, eu e a pescadora voltaríamos pra casa e juntos também, demos bom dia à Lua, que nascia ali depois de morrer nos nossos olhos indignos...
Porque então andei pela praia esperando encontrar uma faixa de pedestres onde eu pudesse atravessar para o outro lado do mundo, mas os sinais de trânsito tinham cores mescladas, nunca se sabia o verde ou o vermelho. Piscava sempre o amarelo, e não sei porque, não significava ¿atenção!¿. Encontrei maços de cigarro com estiletes enrolados, chutei latas de cerveja feitas de ouro, encontrei um pescador com sua rede, que tinha um enorme círculo aberto no meio, por onde obviamente todos os peixes fugiam. Perguntei-lhe o que pescava e ele só disse: ¿algo grande¿. Sim, deve-se pensar gigante nessa vida, deve-se comer o cu da ambição se for necessário e me entristeci por ver também essa necessidade aqui, pois quando vim pra cá não queriam necessidades, queria governos extraordinários de anarquias desencontradas e mil outras confusões que nunca se ajustariam numa coisa tão correta quanto uma sociedade e uma aspiração a ela.
Mas sabia da poesia dos canteiros nonsense onde eu podia sempre arranjar a sombra de um sol que mais queimava depois de bater na areia. Brinquei um pouco ainda de me desviar do tiroteio de raios solares mas um raio perdido me acertou bem forte e deixei que escurecesse. Deixei que chegasse a hora em que os pescadores vão ao mar. Já não sabia, como nunca soube de verdade, em que hora estávamos. Mas a lua se ajeitava no espelho de águas, e como estava bonita, se sentia cheia. Refletia vermelha e lasciva sobre os pescadores em seus cargueiros tão decrépitos que eu podia imaginar os desastres comuns que aquele povo mantinha dentro dele mesmo. Suas mortes e seus nascimentos, suas traições enquanto o barco estava em alto-mar.
E uma mulher entrou num pequeno barco com uma vara e iscas de desejo e fome, tinha cinco mil anos de sonhos ¿ que passavam tão rápido em suas noites. Seus 25 anos de sonhos e lágrimas multicoloridas. Ela pairava sobre as águas. Uma fina camada de madeira dividindo a imensidão e um espaço de dois metros por um e meio, onde ela guardava seus apetrechos de pescadora. Peguei uma dessas brisas marítimas noturnas e fui parar ao seu lado, invisível o bastante para poder ouvi-la cantando um mantra:
¿estou perdida em alto-mar e ninguém pode me incomodar mas me irrita uma vida de alergia que nenhuma antibiótico sabe curar¿
Não pude senão sorrir. Sorrir dessa esperança, dessa vida de 1,99 sem entrada e cheque para trinta dias. E então já era hora do sol surgir. E nesse vilarejo, não sei porque, a lua se vai depois de ver o sol. Por minutos os dois astros se encontram dividindo lados opostos de um ringue astral. E como se vê um amigo partir, despedidas para lugares melhores quase renascimentos, gente que viaja acenando com as mãos nuas, era hora da lua sair da janela e ir aproveitar o dia, pois afinal havia trabalhado, como uma puta inatingível, a noite toda. Juntos, eu e a pescadora voltaríamos pra casa e juntos também, demos bom dia à Lua, que nascia ali depois de morrer nos nossos olhos indignos...
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